Convertendo angustia em alegria e paz (Reflexões sobre o salmo 4)
junho 18, 2025"Responde-me quando clamo, ó Deus que me fazes justiça! Dá-me alívio da minha angústia; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração. Até quando vocês, ó poderosos, ultrajarão a minha honra? Até quando estarão amando ilusões e buscando mentiras?"
Davi está sentindo angustia, possivelmente ansiedade, antes de dormir, algo muito comum até nos dias de hoje. Estava angustiado por que pessoas más, com mais poder do que ele, estavam planejando o seu mal. Mas foi guiado a como reverter sua circunstância interior e passou as instruções do que fazer nessa situação.
"Saibam que o Senhor escolheu o piedoso; o Senhor ouvirá quando eu o invocar. Na vossa ira, não pequeis; consultai o coração no travesseiro e aquietai-vos. Oferecei sacrifícios de justiça e confiai no Senhor."
Ele passa a instrução de trazer a consciência que Deus ouve os justos e cuida deles. Ele manda que examinemos nossos corações, isso é, examinemos nossa consciência. A única preocupação digna de um cristão é se ele cometeu alguma ofensa contra Deus ou não, pois, se ele cometeu, Deus não o ouvirá e ele não terá quem o ajude, mas se ele está em paz com Deus, então certamente Ele cuidará de todo o resto. Caso haja algo mal no coração, ofereça sacrifícios de justiça, nos dias de hoje isso significa pedir perdão. Pois, estando limpos e com a consciência tranquila poderemos estar em paz com Deus e com a confiança de que Ele cuidará de tudo o que nos angustia.
"Muitos perguntam: "Quem nos fará desfrutar o bem?" Faze, ó Senhor, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto!"
O bem deixou de ser desfrutado quando o homem, por sua desobediência, perdeu a presença do seu Criador que é a fonte de todo o bem. Nessa mudança da condição humana a necessidade por um bem constante permaneceu em seu interior, mas ele confunde os meios pelo qual o bem se manifesta com a origem do bem e tenta o obter pelos meios, que em si mesmas são coisas inconstantes, passageiras, circunstanciais, que geram um bem breve e passageiro por serem reflexos, sombras, de um bem eterno (Jeremias 2:13; Eclesiastes 3:11; Oséias 2:8; Tiago 1:17; Romanos 1:25; Isaías 55:1-2; João 4:13-14). Mas, por meio do sacrifício de justiça, o homem justificado pode voltar a desfrutar o bem que seu inconsciente sente saudade, desfrutará desse bem de forma plena na eternidade que se inicia após sua morte, enquanto desfruta em parte nessa vida, conforme se aproxima do bem pleno que preenche seu coração (1 coríntios 13:9-10;12). Se invocarmos a Deus e ele se apresentar a nós, a luz do seu rosto revelará nossa escuridão, assim saberemos o que é o bem, e então o mal dentro de nós será manifesto. Desse modo nossa consciência é duramente pesada, saberemos por o que pedir perdão, pediremos e seremos reconciliados. Quanto mais longe estamos de Deus, mais corretos somos aos nossos olhos, pois dado a nossa cegueira de nós mesmos, temos nosso próprio entendimento como padrão de moralidade, nossas referências são os erros dos outros, que a nossos olhos, naturalmente incapazes de ver mal em nós mesmos (Provérbios 16:2), parecem piores do que os nossos e essa percepção eleva nosso conceito de nós mesmos, como bem ilustrado na parábola do fariseu e do publicano. Mas, quanto mais nos aproximamos do Criador, mais sua luz ilumina nossas trevas e revela nossas sujeiras mais profundas, que antes éramos incapazes de perceber. É um paradoxo de que quanto mais nos elevamos, mais baixos nos enxergamos, e quanto mais baixo estamos, mais elevados nos vemos. Quanto mais próximos da perfeição plena, mais perfeitos nos tornamos e mais imundos nos sentimos, pois quanto mais próximos, mais somos humilhados, e essa humilhação é que nos transforma em algo melhor (Salmo 51:17).
"Encheste o meu coração de alegria, alegria maior do que a daqueles que têm fartura de trigo e de vinho."
No início do salmo, Davi estava aflito, mas ao invocar o Senhor, se reconciliar com Ele e ver sua face revelada, em pouco tempo ele se sentiu cheio de alegria. De alegria maior do que a de quem o causou angustia, pois sua alegria não é construída sobre a areia, não é baseada em circunstâncias externas.
A fartura de trigo e vinho é um símbolo do luxo e conforto. Nos dias de hoje seria algo como ter muito de tudo e não precisar mais trabalhar por nada, apenas usufruir de tudo sem restrições. Basicamente, aquela vida que as pessoas do Instagram aparentam ter. Mas o que enche o corpo, não enche o Espírito. Um mendigo próximo de Deus se sente mais preenchido do que um trilionário que não nunca sentiu Deus. Pois esse tem tudo de tudo o que não é capaz de satisfaz o interior, e de que adianta tudo isso?
"Em paz me deito e logo adormeço, pois só tu, Senhor, me fazes viver em segurança."
Após estar alegre no senhor, Davi finaliza o relato dizendo que em paz se deita. Por meio da revelação da luz do rosto de Deus, e a reconciliação com Ele, a angústia profunda de Davi foi transformada em alegria e em alguns minutos depois, a alegria deu lugar a plena paz em seu coração. Como disse o amigo de Jó: “Reconcilia-te, pois, com ele e tem paz, e assim te sobrevirá o bem.” Jó 22:21.
Resumindo de forma prática, é importante saber que temos etapas claras a seguir quando a aflição toma conta de nós, etapas que podem ser feitas diariamente, antes de dormir. Que são: invocar a presença do Senhor; examinar nossa consciência para ver se há algum mal; expor a Deus nossa transgressão; expor nossas aflições, desfrutar da sua presença e então ir dormir em paz sabendo que Deus ouve os justos e eu estou justificado. Deus, com certeza, ouviu quando o contei as minhas aflições e certamente cuidará de tudo. Não sou eu quem soluciono as circunstâncias, é o Senhor, e ele está cuidando de mim.
"Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio." Salmo 46:10-11.
Faz, ó SENHOR, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto!
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