A Dificuldade de Ser um Novo Convertido

Recentemente, aconteceu uma polêmica que me deixou muito triste. Uma moça evangélica foi alvo de chacota pública por conta de um crime contr...

Recentemente, aconteceu uma polêmica que me deixou muito triste. Uma moça evangélica foi alvo de chacota pública por conta de um crime contra sua intimidade, que ela sofreu aos 15 anos. Após o episódio, ela se converteu, mas hoje os moralistas religiosos usam do ocorrido para desmerecer e ridicularizar a sinceridade da fé da menina. Em seu vídeo de resposta a confusão, a moça conta que, na igreja, era alvo de comentários maldosos por conta de seu namoro. As pessoas a tratavam mal por ela ter relações com o namorado, mas ela não sabia que isso era errado. Isso reflete o que acredito ser a maior dificuldade dos novos convertidos: querer mudar, se dispor a mudar, não saber exatamente o que deve ser feito e ser alvo de chacota por isso. 

Julgar uma fé como não genuína pela incapacidade da pessoa de identificar imediatamente todas as próprias falhas é confundir justificação com santificação. É triste que a qualidade teológica do país seja tão baixa, a ponto de ser comum que pessoas não consigam distinguir algo tão básico. Ter a consciência de ser um pecador, o desejo de não pecar e disposição para parar é o sinal da justificação, que é imediata após a pessoa crer. Já a consciência total dos pecados é gradual e parte do processo de santificação, que depende muito da instrução clara das Escrituras. Paulo teve uma formação excelente e já possuía um conhecimento sólido da Escritura, ainda sim precisou passar 17 anos se capacitando antes de começar seu ministério. Jesus Cristo é o criador de todas as coisas, e seu ministério teve início aos 30 anos de idade. Mas os jovens cristãos são pressionados a já saberem previamente tudo o necessário para não errarem, mesmo sem serem bem instruídos.

Eu creio que a fase mais difícil, e que exige mais força, da jornada cristã é o início dela. Porque é onde você é criticado e desprezado por todos. Você está cada vez mais consciente dos teus erros e isso te revela sua distância de Deus e necessidade de redenção, então, é a fase mais reflexiva e solitária que uma pessoa poderia estar, sozinha, apenas consigo mesma e uma consciência parcialmente pesada, parcialmente anulada. Ninguém te ajuda, ninguém te compreende, todos te criticam e procuram humilhar, cada um por sua própria razão, pois para os que não são cristãos, você é esquisito, doido e motivo de piada. Para os que são cristãos, você é errado demais, pois é muito comum que jovens convertidos tenham muita dificuldade para saber o que é certo e errado, mesmo convertidos, eles continuam a praticar determinadas coisas, não por serem falsos ou maus cristãos, mas por serem míopes e precisarem de instrução. E é muito comum que as pessoas que deveriam cumprir o papel de instruir, ao invés de cumprir seu papel, desdenhem dessas pessoas, as envergonhe com comentários maldosos, como se a falta de instrução perfeita de um novo seja mais grave do que o deboche e a indiferença de um velho. 

A vida do jovem convertido é difícil, e se torna prazerosa a medida em que consciência de si mesmo, da sua condição e a oferta de reconciliação o levem a um relacionamento sincero com o Criador. E, a medida que se apega a Ele e passa pela transformação gradual, todo o resto vai, cada vez mais, perdendo a importância. As humilhações continuam, em maior grau conforme a purificação interior ocorre, mas junto dela vem o desprendimento de si mesmo e das coisas que antes tinham muito valor.

É difícil, uma porta bem estreita, e ao mesmo tempo, cada vez mais feliz e gratificante. Pois, no meio da tristeza pela sua incapacidade de não pecar, você é consolado pela graça; No meio do engano, a verdade se revela e você pode contempla-la com mais clareza por conta do contraste; A noção da nossa natureza falha nos torna muito gratos pelas promessas de restauração; a desaprovação pública nos leva a fazer de Deus nossa única fonte de aprovação. Deus nos refina a fim de nos purificar, doí e ao mesmo tempo é gratificante.

Todos nós que queremos viver piedosamente em Cristo sofremos perseguições, somos odiados de todos por causa do Seu nome. Muitas vezes ficamos aflitos, mas não somos derrotados. Algumas vezes ficamos em dúvida, mas nunca ficamos desesperados. Porém, se perseverarmos até o fim, seremos salvos.





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